O Pantanal, a maior planície alagável do mundo, enfrenta um cenário alarmante: o segundo ano mais seco desde o início das medições em 1985, segundo dados divulgados pelo MapBiomas nesta sexta-feira (21). A persistência de longos períodos de estiagem e o aumento na frequência de incêndios florestais têm provocado uma redução drástica nos níveis de água do bioma, desequilibrando seu ciclo natural e colocando em risco a biodiversidade local.
De acordo com o relatório do MapBiomas, a área de superfície de água no Pantanal diminuiu 4% em 2024 em comparação com o ano anterior, atingindo o patamar de 366 mil hectares. A situação se agrava ao observarmos que o ano de 2024 registrou uma seca 52% mais intensa do que a última grande cheia, ocorrida em 2018. Isso significa que, nos últimos sete anos, o Pantanal não experimentou um alagamento completo, comprometendo o “pulso de inundação”, ciclo essencial que alterna períodos de seca e cheia.
O Serviço Geológico do Brasil (SGB) aponta que a média anual de chuvas no Pantanal, em torno de 1.100 milímetros, não tem sido alcançada nos últimos anos. O pesquisador do MapBiomas, Eduardo Reis, alerta para a necessidade de adaptação a essa nova realidade, que já se manifesta há seis anos. “O pulso de inundação, período em que o bioma permanece alagado, é crucial para a renovação da biodiversidade. A flora e a fauna da planície pantaneira dependem dessa renovação para garantir sua alimentação“, explica Reis.
A dinâmica hídrica do Pantanal depende de grandes períodos de cheia para que os rios, especialmente o Rio Paraguai, atinjam níveis elevados e transbordem, formando uma barreira que retém a água das chuvas nos campos por mais tempo. No entanto, esse nível ideal não tem sido alcançado.
O pesquisador do SGB, Marcus Suassuna, detalha o histórico recente de déficits de chuva: “Em 2020, registramos 870 mm de chuva, um déficit superior a 200 mm. Em 2021, o déficit persistiu. E agora, em 2024, enfrentamos mais um ano de escassez. Além disso, as previsões indicam que 2025 também deve apresentar anomalias negativas de chuva“.
Apesar do registro de chuvas em março, o desequilíbrio hídrico persiste. “Quando a cheia não atinge o esperado, o risco de secas recorrentes aumenta“, alerta Suassuna.
O MapBiomas destaca que a cheia é fundamental para o desenvolvimento da vegetação com biomassa. No entanto, os longos períodos de seca tornam essa vegetação seca e suscetível a incêndios. “Quando o período seco chegar, essa biomassa seca estará disponível para qualquer foco de incêndio, e a propagação pode se tornar incontrolável, como já vimos em anos anteriores“, adverte Eduardo Reis.
Embora o Pantanal seja um bioma adaptado ao fogo e capaz de se recuperar em ciclos, a atividade humana é a principal causa dos incêndios na região, representando cerca de 84% dos casos, segundo a pesquisadora do Departamento de Meteorologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Renata Libonati. As causas naturais, como raios, respondem por 16% dos incêndios.
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) revelam que, em 2024, o Pantanal, abrangendo Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, registrou 613 focos de queimadas. Em todo o estado de Mato Grosso, o número chega a 3.971 focos, ficando atrás apenas de Roraima, com 4.571 focos.
O cenário exige atenção e medidas urgentes para mitigar os impactos da seca e dos incêndios no Pantanal, preservando sua biodiversidade e garantindo a sustentabilidade desse ecossistema único.